segunda-feira, janeiro 12, 2009

O Elefante Acorrentado...

" Quando eu era pequeno, adorava o circo e aquilo de que mais gostava eram os animais.Cativava-me especialmente o elefante que, como vim a saber mais tarde, era também o animal preferido dos outros miúdos.Durante o espectáculo, a enorme criatura dava mostras de ter um peso, tamanho e força descomunais...Mas depois da sua actuação e depois de voltar para os bastidores, o elefante ficava sempre atado a uma pequena estaca cravada no solo, com uma corrente a agrilhoar-lhe uma das suas patas."
" No entanto, a estaca não passava de um minúsculo pedaço de madeira enterrado uns centímetros no solo.E embora a corrente fosse grossa e pesada, parecia-me óbvio que um animal capaz de arrancar uma árvore pela raíz, com toda a sua força, facilmente se conseguiria libertar da estaca e fugir."
" O mistério continua a parecer-me evidente."
" O que é que o prende então?"
" Porque é que não foge?"
" Quando eu tinha cinco ou seis anos ainda acreditava na sabedoria dos mais velhos. Um dia decidi questionar um professor, um padre um tio sobre o mistério do elefante.Um deles explicou-me que o elefante não fugia porque era amestrado."
" Fiz então a pergunta óbvia:
- Se é amestrado porque é que o acorrentam?"
" Não me lembro de ter recebido uma resposta coerente. Com o passar do tempo esqueci o mistério do elefante e da estaca e só o recordava quando me cruzava com outras pessoas que também já tinham feito essa pergunta."
" Há una anos descobri que, felizmente para mim,alguém fora tão inteligente e sábio,que encontrara a resposta:"

" O ELEFANTE DO CIRCO NÃO FOGE PORQUE ESTEVE ATADO A UMA ESTACA DESDE QUE ERA MUITO, MUITO PEQUENO."

" Fechei os olhos e imaginei o indefeso elefante recém-nascido, preso à estaca. Tenho a certeza de que naquela altura o elefante puxou, esperneou e suou para se tentar libertar.E apesar dos seus esforços não conseguiu, porque aquela estaca era demasiado forte para ele."
" Imaginei-o a adormecer, cansado, e a tentar novamente no dia seguinte e no outro e no outro...Até que um dia, um dia terrível para a sua história, o animal aceitou a sua impotência e resignou-se com o seu destino."
" Esse elefante enorme e poderoso, que vemos no circo, não foge, porque coitado, pensa que não é capaz de o fazer."
" Tem gravada na memória a impotência que sentiu pouco depois de nascer."
" E o pior é que nunca mais tornou a questionar seriamente essa recordação."
" Jamais, jamais tentou pôr novamente à prova a sua força..."

" - E é assim a vida, Damião.Todos somos um pouco como o elefante do circo: seguimos pela vida fora atados a centenas de estacas que nos coarctam a liberdade."
" Vivemos a pensar que não somos capazes de fazer montes de coisas, simplesmente porque uma vez, há muito tempo, quando éramos pequenos, tentámos e não conseguimos."
" Fizemos então o mesmo que o elefante e gravámos na nossa memória esta mensagem: " não consigo, não consigo e nunca hei-de conseguir...""
" Crescemos com esta mensagem que impusemos a nós mesmos e por isso nunca mais tentámos libertar-nos da estaca."
" Quando por vezes sentimos as grilhetas e as abanamos, olhamos de relance para a estaca e pensamos:

NÃO CONSIGO E NUNCA HEI-DE CONSEGUIR.

"O Jorge fez uma longa pausa. Depois, aproximou-se, sentou-se no chão à minha frente e prosseguiu:"
" - É isto que se passa contigo, Damião.Vives condicionado pela lembrança de um Danião que já não existe, que não foi capaz."
" A única maneira de saberes se és capaz é tentando novamente, de corpo e alma...e com toda a força do teu coração."

Jorge Bucay
( Deixa-me que te conte)
- Os contos que me ensinaram a viver.